COLOCAÇÃO DO DEFICIENTE NO MERCADO DE TRABALHO: UM SONHO ALCANÇADO
Fernanda Paula
Há dez anos a APAE de Goiânia vem se dedicando à grata e digna tarefa de preparar e colocar no mercado de trabalho formal, jovens com deficiência intelectual.
A prática nesse trabalho vem mostrando que o caráter compulsório da lei determinante da reserva de vagas para deficientes nas empresas, não tem obstruído a marcha pacífica e respeitosa de inserção dos nossos jovens com deficiência intelectual no mundo organizacional. Para quem duvidava: eis o benefício decorrente da imposição!
Temos acompanhado esse processo e vemos com muito prazer e entusiasmo, que ao contrário do que muitos acreditavam, nossos aprendizes estão sendo muito bem recebidos nas empresas. Os departamentos de gestão de pessoas evidenciam disposição para conhecer as pessoas e o conjunto de habilidades desenvolvidas no decurso da preparação para o trabalho. E depois de inseridos, a constatação das competências laborais e comportamentais apresentadas por eles, reforça o propósito de inserção e a confiança no potencial de cada um.
A colocação do deficiente intelectual é algo novo, tendo em vista que o mercado já está relativamente habituado a colocar deficientes físicos, visuais e auditivos. Nossos aprendizes eram tomados como incapazes de oferecerem força de trabalho relevante no processo produtivo. Porém a cada colocação e permanência promissora, a competência se firma e a confiança no humano cresce.
E é isso que audaciosamente almejamos: que a condição humana seja posta á frente da deficiência intelectual, para que ela seja o marco da capacidade de alguém. Independentemente da condição de deficiência intelectual estabelecida, a condição genuinamente humana preexiste e conseqüentemente, muitas habilidades podem ser desenvolvidas. Portanto nossa prática sustenta que não existe nenhum motivo racional e prudente que justifique o não investimento nas faculdades humanas dessas pessoas.
O papel de sensibilização e conscientização da APAE no processo de emancipação do trabalhador com deficiência intelectual é de extrema importância. Estamos revelando ao mundo organizacional um colaborador diferenciado em sua condição específica e que por isso mesmo, pode representar o elemento faltante para o enriquecimento das relações interpessoais e funcionais da empresa.
O trabalho de inclusão do jovem com deficiência intelectual no mundo do trabalho vai além da inserção pura e simples: identificamos e adequamos perfis; orientamos e esclarecemos sobre os mitos e a possibilidades que rondam a pessoa com deficiência intelectual; damos suporte psicológico e técnico para a empresa; acompanhamos o processo de adaptação do jovem na organização.
É essencial que as empresas também sejam capacitadas para esse novo intento humanizador. E como a desmistificação das crenças a cerca da inabilidade produtiva da pessoa com deficiência intelectual deve ficar a cargo de quem conhece e aposta no diversidade, empenhamos todo esforço para esclarecer, orientar e demonstrar essa realidade conteste, porém ignorada. Estamos profundamente convencidos de que a deficiência intelectual é uma condição de vida e como tal necessita de adequações e não ruptura ou cerceamento. E essa convicção tem sido fielmente comunicada ao mundo do trabalho através da APAE de Goiânia.
O CEPROLIM – Centro de Profissionalização Lincon Marques da Rocha – investe na adequação do processo de preparação e colocação no mercado de trabalho. Ou seja, reconhece que todo procedimento feito na intenção de capacitar e integrar o jovem no campo de trabalho, deve considerar sua condição e não exigir além do que possa oferecer, como também proporcionar condições para que ele mostre seu verdadeiro potencial.
Quanto à colocação, os procedimentos também devem ser diferenciados desde o recrutamento, passando pela seleção, integração e desenvolvimento, até a avaliação de desempenho. Acompanhamos todo o processo para que a empresa perceba a necessidade de ajuste nos seus procedimentos para inserir e integrar satisfatoriamente, o deficiente no quadro funcional da organização, bem como para assegurar uma integração tranqüila e segura para o aprendiz contratado.
Orgulhamo-nos dos frutos colhidos ao longo desse processo de valorização e reconhecimento da pessoa humana, pois nosso educando cresce, sua família se fortalece no prazer de vê-lo reconhecidamente valorizado e as empresas tornam-se parceiras e multiplicadoras da verdadeira inclusão.
Fernanda Paula
Psicóloga do Centro de Profissionalização Prof. Lincon Teixeira.
APAE Goiânia.